12 de agosto de 2010

A Obesidade Mental - Andrew Oitke

O prof. Andrew Oitke publicou o seu polémico livro «Mental Obesity», que
revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral.
Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito
em epígrafe para descrever o que considerava
o pior problema da sociedade moderna.

«Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos
do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada.
Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e
conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses.»

Segundo o autor, «a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos
que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de
carbono. As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados,
pensamentos tacanhos, condenações precipitadas.

Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada.
Os cozinheiros desta magna "fast food" intelectual são os jornalistas e
comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e
realizadores de cinema.

Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito,
as revistas e romances são os donuts da imaginação.»

O problema central está na família e na escola.
«Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se
comerem apenas doces e chocolate.
Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta
mental das crianças seja composta por desenhos animados,
videojogos e telenovelas.

Com uma «alimentação intelectual» tão carregada de adrenalina, romance,
violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma
vida saudável e equilibrada.»

Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra,
intitulado "Os Abutres", afirma:
«O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de
reputações, de detritos de escândalos,
de restos mortais das realizações humanas.
A imprensa deixou há muito de informar,
para apenas seduzir, agredir e manipular.»
O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade
fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante.
«Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais.»
Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura.
«O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades.

Todos sabem que Kennedy foi assassinado,
mas não sabem quem foi Kennedy.
Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto,
mas ninguém suspeita para que é que ela serve.
Todos acham que Saddam é mau e Mandella é bom,
mas nem desconfiam porquê.
Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema,
mas ignoram o que é um cateto».

As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras.
«Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes
realizações do espírito humano estejam em decadência.

A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura
banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia.
Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo.
Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim da
civilização, como tantos apregoam.
É só uma questão de obesidade.
O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos.
O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos.
Precisa sobretudo de dieta mental.»
 
Por João César das Neves - 26 de Fev 2010

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