Quando vou para o trabalho, tenho o hábito de deixar o carro numa praceta que fica muito perto da estação dos barcos do Barreiro. Faço-o todos os dias da semana.
Aquela zona é sossegada. Vivem ali muitas pessoas idosas. É habitual vê-las sentadas a conversar, nos bancos de jardim. Algumas delas até já me dão os bons dias.
É evidente que não tenho um lugar certo para estacionar. O primeiro que apanho vago, ocupo. Acontece, por isso, ao final do dia, andar à procura do sítio onde deixei o carro.
Na Quarta-feira, cheguei àquele local já tarde e bastante cansada. Aproximei-me do carro e accionei o botão da chave, para abrir as portas. NADA. As portas não abriam. Voltei a carregar no botão. NADA.
Ok. Pensei eu. Só me faltava esta. O sistema de abertura automática deixou de funcionar. Tentei mais uma vez. NADA. Começei a praguejar. Sem dar por isso, estava literalmente a falar sozinha, mas em voz alta. Tudo o que eu queria era chegar a casa, tomar um duche e jantar, mas ainda tinha aquele problema para resolver.
Já me estava a imaginar a ter de ir à procura de alguém que me ajudasse a abrir o carro. As oficinas estavam fechadas, àquela hora. Sarilhos e despesas, pensei eu.
Entretanto, oiço uma senhora a rir-se. Olho para as varandas do edifício mais próximo e lá estava ela, a olhar para mim. Voltei a fixar o olhar na senhora, para ter a certeza de que estava mesmo a olhar para mim. Continuou a sorrir e à segunda vez disse: "Esse é meu!"
Fitei a senhora durante alguns segundos.
- Desculpe?
- "Esse é meu". Insistiu ela. "O seu é aquele." E apontou para outro local, a poucos metros dali. Continuava a sorrir.
Confesso que só não me escondi porque não havia nenhum buraco ali por perto. Coincidência das coincidências. O carro da senhora é exactamente igual ao meu. A marca, o modelo e a cor.
A minha sorte é que aquelas alminhas já me conhecem, senão tinha chamado a polícia e apresentava queixa contra mim, por roubo. O mais engraçado é que eu ia presa sem saber porquê.
Conseguem imaginar a minha cara, presumo.
- Ah, pois é! Veja lá. Que coincidência!!! A senhora desculpe. Estava convencida que este era o meu carro. Que vergonha!
A senhora chamou o marido e fartaram-se de rir, os dois.
Pedi desculpa umas dez vezes, no mínimo. E pus-me a andar dali para fora. Envergonhada.
Isto realmente só a mim!! Apre!
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