Aproxima-se o dia de aniversário das minhas irmãs gémeas. Para que compreendam: somos quatro irmãs. A Filomena é a mais velha. A Irisalva e a Zialtina são as "do meio" - as gémeas. Eu sou a mais nova.
É habitual, entre nós, organizarmos um jantar de família nestes dias especiais mas, considerando que as minhas irmãs celebram, em 2010, 50 anos de vida, achei por bem comemorar esta data dirigindo-lhes algumas palavras merecidas e verdadeiras. Lamechices, estarão vocês a pensar. Pois que sejam! Nesta minha estranha forma de vida procuro ser lamechas com aqueles que amo. Porque creio que é, em vida, que devemos declarar o nosso amor por alguém, reconhecer os nossos erros e pedir perdão pelas nossas falhas. O dilema está em transcrever para o papel o que nos vai na alma.
Este "exercício" obrigou-me a revisitar algumas recordações do passado. Os momentos que partilhámos juntas. E confesso-vos: Valeu a pena!
Passei em revista os nove anos que vivemos no Luso, em Angola. Anos felizes. Os momentos de grande dificuldade que fomos forçados a ultrapassar nos primeiros anos a residir em Portugal. Éramos REFUGIADAS de uma guerra que nunca foi nossa. Sobrevivemos. Os laços fortaleceram-se. A entreajuda foi uma constante. A união consolidou-se. Os anos que se seguiram foram, sem dúvida, mais fáceis. Cada uma seguiu o seu caminho. Houve momentos felizes e outros mais conturbados mas, o saldo é francamente positivo. Porquê?
Apraz-me salientar que, nesta minha retrospectiva sobre os momentos que vivenciámos e apesar das dificuldades já citadas, não existem registos de disputas, de invejas, de quezílias ou de amuos.
Esta constatação permite-me afirmar que partilho, com as minhas irmãs, 43 anos de uma sólida e duradoura amizade. Não. Não me refiro àquele género de amizade que se contrói no local de trabalho ou numa saída com "amigos", num almoço ou jantar de grupo, onde se bebem uns "copos"... sempre com muitas cortesias e lisonjas! Esses são meus conhecidos.
Amigos são aqueles que procuro como procuro livros. E, para mim, acertar na procura não obriga a que sejam muitos, nem extraordinários. Apenas que sejam poucos mas bons e que estejam devidamente identificados.
Que seja alguém com quem eu possa falar sobre as minhas preocupações e alegrias como se falasse comigo mesma. Alguém em quem eu possa confiar um segredo. Alguém que na adversidade e no infortúnio não me virará as costas. Alguém para quem eu olhe e veja a outra parte de mim. Alguém que me conhece a fundo e não obstante me quer bem.
Com estas características são poucos os meus Amigos mas, entre eles, estão as minhas irmãs.
A Filomena é uma ternura. Meiga, prestável e muito sociável. Atendendo talvez à diferença de idades que nos separa, considero-a uma segunda mãe.
As gémeas são igualmente companheiras e compreensivas. Cúmplices até! Daí o meu amor, respeito, camaradagem, compreensão, estima e dedicação por todas elas.
Agradeço-vos cada momento que partilhei convosco.
O que posso, então, desejar-vos neste dia tão especial?
Que o vosso aniversário seja melhor que as coisas habituais. Que possam abrir as cortinas, pela manhã e descobrir que nevou. As primeiras gotas de chuva salpicando a poeira da seca. Janelas iluminadas com a luz do pôr do Sol. Uma garça planando lentamente no céu, ao entardecer. Uma porta que se abre para as coisas tão familiares. O cheiro da primavera. Coisas que já têm mas que são sempre novas. Saúde. Paz. Amor. A dádiva dos dias. O dom da vida. Um grande beijo de parabéns.
A Filomena
A Vita e a Tina - 1962
Um piquenique que fizeram, com os meus pais,
próximo do Luso, em Angola.
A cumplicidade, entre elas, é visível desde muito cedo! :-)
A Vita, eu e a Tina - 1968
A primeira comunhão das gémeas
Eu, a Tina e a Vita - 1970
O dia em que as gémeas fizeram o Crisma
Ainda as gémeas
Uma foto tirada em frente à nossa casa, no Luso - 1972
As gémeas - Barreiro, 1981