Li hoje, no Facebook e neste blogue (http://antonuco.blogspot.com/2010/11/manifestacao-da-frente-comum-ontem-no.html), este artigo que passo a transcrever:
"Manifestação da Frente Comum ontem no Marquês de Pombal....protestam de quê?
Ontem fiquei retido no trânsito com mais uma manifestação no Marquês de Pombal. E dei comigo a pensar de que é que os funcionários públicos da Frente Comum protestavam...
Aposto que não protestavam contra:
- o facto de os partidos políticos terem enxameado a Administração Pública com pessoas sem os requisitos técnicos relevantes; engordando e onerando a despesa pública com os inerentes impostos que todos temos que pagar;
- com o facto de terem segurança no trabalho e de não serem taxados (sim, um imposto) sobre isso; quando a taxa de desemprego oficial anda perto dos 11% esta incide apenas sobre os 85% de trabalhadores do sector privado;
- de as remunerações médias do funcionalismo público serem superiores às do sector privado;
- o sistema de avaliações, não ser posto em prática ou quando o foi de não servir para nada...;
Era um bom ponto de partida. Para uma boa discussão e eventualmente para uma boa manifestação.”
A minha resposta:
Devo confessar que li este post, pelo menos, três vezes. Estive tentada e ignorar o assunto mas, entendo que não devo fazê-lo, porque é através de publicações como esta que se vai enraizando entre os portugueses aquele odiozinho de estimação pelos trabalhadores do Estado.
Eu compreendo que o Sr. Dr. tenha ficado deveras incomodado pelo facto de ter perdido algum do seu precioso tempo no trânsito, devido à manifestação dos “funcionários públicos”.
Eu faço quatro horas de transportes públicos diários, PAGOS DO MEU VENCIMENTO, para poder trabalhar. Como deve compreender, é habitual, para quem utiliza este tipo de transportes, estar parado no trânsito. Ao fim de algum tempo, passa a ser indiferente estar nessa situação durante 5m ou 3h. Já não me sinto importunada com estes pormenores.
Refere no seu artigo que aqueles trabalhadores não protestavam, certamente, pelo facto de “as remunerações médias do funcionalismo público serem superiores às do sector privado”.
Eu trabalho no Estado. Sou técnica superior. Estou disposta a tornar público o meu recibo de vencimento (que já é do conhecimento de todos os portugueses, uma vez que as contratações do Estado são divulgadas em DR), se o Sr. Dr. fizer o mesmo em relação ao seu. E atenção, o meu recibo de vencimento traduz o que EFECTIVAMENTE me é pago. Não há dinheiros por fora. Não há prémios extra.
Como subsídio de refeição aufiro 4€ diários. Pago mensalmente 50€ de passe. Não tenho direito a carro nem a telemóvel pago pela empresa. O meu horário de trabalho obriga-me a efectuar 7h de trabalho diário. Todos os dias excedo, em muito, aquele tempo de trabalho. Não recebo horas extraordinárias.
Não faço viagens de férias para o estrangeiro. Moro num bairro social há 35 anos. Certamente compreenderá que não é por opção ou por amor ao local onde resido. Moro ali apenas porque o meu vencimento ainda não me permitiu comprar casa noutro local. Se dependesse de mim, provavelmente estaria a residir numa moradia em Cascais ou no Estoril.
Há 7 anos que estou estagnada na mesma categoria, sem promoções ou aumentos de vencimento, portanto. De nada me serviu o facto de ter ou de não ter avaliação de desempenho.
Presumo que quando o Sr. Dr. se referia às remunerações do funcionalismo público estaria a referir-se aos vencimentos que auferem os altos cargos dirigentes da Administração Pública, aos gestores públicos, aos pensionistas do Estado que acumulam vencimentos com 2 e 3 pensões, aos técnicos superiores no topo da carreira, etc., etc., etc. Estes, talvez representem uns 10% dos “trabalhadores” do Estado. Sim, porque nunca poderia estar a fazer referência aos restantes 90%. Estes, representam os verdadeiros funcionários públicos. São os contínuos, as telefonistas, os motoristas, os administrativos e os técnicos superiores em início de carreira. Que mal lhe pergunte, o Sr. Dr. sabe quanto ganha um funcionário destes? Não sabe, com certeza. Pois eu digo-lhe. Muito pouco.
Acredita mesmo no que disse Sr. Dr.? Que os serviços do Estado estão a abarrotar de trabalhadores que não reunem competências técnicas relevantes para o desempenho das funções que exercem?
Pretendeu classificar como incompetentes todos os professores, enfermeiros, médicos, juristas, arquitectos, informáticos, e todos os outros que asseguram diariamente as funções do Estado?
Será que posso retirar desse seu comentário uma ilação? O Sr. Dr. considera-se um iluminado. Todos os outros não passam de aselhas incompetentes.
Para terminar, falta-me fazer uma última referência à “segurança no trabalho”. Aconselho-o vivamente a ler o artigo 10.º da Lei 12-A/2008, de 27 de Fevereiro – Âmbito da nomeação. Ficará a compreender que já tem muito pouco para taxar com um imposto, Sr. Dr. Paulo Marcos.
É por estas e por outras que eu opto sempre por pronunciar-me apenas sobre assuntos que conheço.
Receba um beijo desta trabalhadora do Estado. Beatriz Leal
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