Uma imagem lindíssima que me foi enviada de Itália.
Beijinhos gordos para ti também, Carla. :)
Balada da Neve
Batem leve, levemente,
Como quem chama por mim…
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente,
E a chuva não bate assim…
É talvez a ventania;
Mas há pouco, poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho…
Quem bate assim levemente,
Com tão estranha leveza,
Que mal se ouve, mal se sente?…
Não é chuva nem é gente,
Nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía,
Do azul cinzento do céu,
Branca e leve, branca e fria…
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça,
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho…
Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança,
E noto, por entre os mais,
Os traços miniaturais
Duns pezitos de criança…
E descalcinhos, doridos…
A neve deixa inda vê-los.
Primeiro bem definidos,
Depois em sulcos compridos
Porque não podia erguê-los!
Que quem já é pescador
Sofra tormentos… enfim!…
Mas as crianças, Senhor,
Porque lhe dais tanta dor?…
Porque padecem assim?!…
E uma infinita tristeza,
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza…
- E cai no meu coração.
Augusto Gil - Poeta
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